quarta-feira, 27 de julho de 2011

EU

Minha vida
No meio de muita água nasci. A fazenda chamava-se Sant`Ana. Era cercada por rios. Meu pai fazia queijos e doces pra vender na cidade. Essas lembranças foram resgatadas pelos meus pais. Não me lembro desta fase. Fomos morar em São Bento, eu , meus pais e meus três irmãos. Eu era a segunda, e lá, no meio, de jabuticabeiras, goiabeiras, bananeiras e muitas outras árvores que despertavam o nosso imaginário: bicho das folhas secas, mãe de ouro, nossos cavalos de bambu, nossas casinhas encarapitadas nas arvores, e muitos sonhos se transformavam em realidade. Disputávamos, às vezes, no muque, nossas forças. Leite fresquinho,espumando,fazia bigodes engraçados. Aprendi, com os irmãos, a andar a cavalo, a nadar, jogar amarelinha, finco, bota, cantigas de roda.

De repente, já não bastava Algum tempo depois retornei a Sant´Ana para aprender as primeiras letras. Aprendi O IVO VIU A UVA sem nunca ter sentido o sabor desta fruta. Mas sabia arrancar batata doce, aipim, e ficava fascinada com o dourado do arrozal,com a doçura da garapa,da rapadura, do doce de leite e muitos outros sabores que escreveram minha infância. Já adolescente, um ADMIRÁVEL MUNDO NOVO me esperava - Rio Preto. Uma pequena cidade mineira, encravada entre montanhas, cortada pelo Rio Preto.E foi lá, que conheci pessoas diferentes,das quais sentia muito medo, conheci a Maria Fumaça que me fascinava e , ao mesmo tempo me apavorava. Mas o mais importante, diante de tantas novidades, foi o cinema. Lá eu aprendi a sonhar, a amar, a sofrer, a sentir a imensidão deste mundo. E , talvez, a enfrentar os monstros que carregava comigo, do silêncio do sertão, de onde viera. Estudei, namorei, casei. Tive filhos que se transformaram em amigos e me deram muitos presentes: netos. Hoje a história continua, em outro universo, onde procuro, a cada dia, me descobrir, através destas novas histórias que se entrelaçam tecendo esta linda colcha,em que cada pedaço, traz um colorido diferente na construção desta nova etapa de minha vidae que, cada um, é uma continuação viva de minha história.

Valença, 04/01/2011

domingo, 24 de julho de 2011

CELEIRO DULCINÉIA

Um poema recente, premiado no Concurso Literário da Academia de Letras de Maringá:
Carlos Bruno

Evita meu celeiro, triste homem das vontades básicas,
Meus trigos não alimentam tua fome,
São grãos colhidos no solo do lirismo;
Vêm do mundo das ideias, da mente de um sonhador
Que protesta por alimentos realista
Mas só protesta, só, protesta, em vão, pois não te alimenta
Evita esse meu arroz invisível, colhido na safra da solidão,
Pois minhas composições não enchem teu estômago vazio.
Meu depósito de alimentos não perecíveis é eterno
Mas impróprio para o consumo de teus olhos famintos;
Lamento, escravo senhor, os latifúndios continuam florindo cancerígenos
No solo da ambição desmedida dos homens que pisam em tua campina sem vida,
Enquanto meu armazém só contém produções aquém dos teus anseios.
Para teus desejos cereais, trago um galpão seco de comida,
Poemas, gigantes fingidos, nada mais que meros moinhos de vento...
Procura outro reino, Sancho Pança da realidade rocinante,
Pois este meu celeiro é de um fidalgo errante castigado de ilusão...
Meu querido Carlos, saudades muitas.  Foi muito bom encotrar você  e  sentir  que a sua luta, no mundo dos afetos,  cresce junto com suas poesias. Elas, que hoje, já não te pertencem,  fazem parte do universo  de outros seres  que, embora não plantem;  colhem e saboreiam  as sementes,  deste trigo, que se fazem eternas em nossas almas.  Que “este fidalgo errante” continue a preencher , com suas palavras, este imenso celeiro, o universo, de esperança de que um dia, não muito distante, todos possam  saciar esta fome,  tão bela, de justiça, paz e harmonia entre nós, seres humanos. 
Com carinho, Selma.