segunda-feira, 24 de agosto de 2015

As Marés da Vida

Mares.
Marés
matinais.
Vêm. Vão.
Acariciam. Lambem.
Suavemente transpassam
limites.
Bordam castelos.
Demarcam territórios.
Doam. Estabelecem cumplicidade.
Capturam quereres.

Mar.
Maré.
Entardece.
Cresce. Transborda.
Rude. Forte. Libidinosa.
Penetra. Funde-se. Encharca.
Deixa marcas.
Esculpe formas.
Às vezes,  agrestes.
Às vezes,  frágeis.
Todas ao sabor
deste  eterno
vai-e-vem
das marés da vida.



Selma Monteiro Pereira
05/01/07




RECORDAÇÕES

Manhã chuvosa.
Úmidas vidraças
Encobrem  olhos ávidos
Em  busca do sol.

Desenhos abstratos
Se  dissolvem
Ao  sabor da chuva.
Pés descalços ansiosos
Por  percorrer e triturar
O  calor úmido da grama.

Lábios que sonham
O  néctar das pitangas e amoras.
Caldo escorrendo
Lambuzando  pequenos seios
Prestes  a rebentar.

Brincadeiras proibidas.
Prazeres interrompidos.
Sabor de pecado,
De  jambo, de jabuticaba.

Doces amores de infância
Lavados  pelo tempo.
Marcados  por outros
amores – dores
 no eterno vai-e-vem
das manhãs
chuvosas.






Selma Monteiro Pereira
OBRA INACABADA

Ásperas mãos percorrem
com delicadeza formas pétreas.
Viajam em pequenos barcos.
Mergulham com os peixes.
Escalam montanhas.
Dão vida às plantas.
Asas aos pássaros.

Com seus toques mágicos,
desvendam mistérios,
esculpem corações.
Constroem o belo:
eterno e vulnerável.

A incerteza se instala,
cresce, sufoca e impede
o entalhe perfeito.
Surge a ruptura.
Um coração se fragmenta.
A magia se desfaz.
Criador e criatura se fundem
na cor que escorre
de solitárias mãos e
inflama os multifacetados cacos
de uma obra inacabada.


Selma Monteiro Pereira

10/08/07

sábado, 8 de agosto de 2015

FOTOS

VIA ÚNICA

VIA ÚNICA
Via, única.
Via o mar.
Via, engarrafada.
Via meninos.
Pés, descalços.
Corre, corre.
Biscoitos, Globo.
Água, gelada.
Vidros, levantados.
Calor, dissimulado
Ar, condicionado.
Música, Jazz.
Sol, avermelhado.
Entardece.
A noite engole o dia.
Meninos, curvados.
Perfilam, na via-crúcis.
Engolem amargas
Esperanças.
Numa via única,
Sem retorno.
Valença, 08/08/2015
Selma Monteiro Pereira