Rudes no toque.
Grossas, calejadas.
Manejando o arado,
Lançando sementes.
Milho, feijão, arroz
e muitos filhos.
Num movimento
que só elas sabiam.
O leite transbordava
do balde: branca espuma
de um mar que não existia.
Seu cavalo, seu chapéu,
sua capa de chuva.
Um chicote, uma garupa.
Filhos partindo.
Outros chegando.
É Natal. Sob a cama,
bordado de passarinhos,
um piano amarelo.
Mãos tão pequeninas
descobriam as notas musicais.
Lá em cima, no curral,
Papai Noel fazia jorrar
o leite através de
suas maltratadas mãos.
Os sons se misturam.
Rudeza e ternura.
Encantamento
de um momento
impresso, em cores fortes,
na tela da memória.
Suas cândidas mãos sofridas,
talvez, quem sabe,
enrijecidas, embrutecidas,
distanciaram-se.
Não me alcançaram.
Cresci.
Selma Monteiro
Valença, 2008
´Poeta´ vem do termo ´poiesis´, justamente: criar, inventar, fazer. Por uma história de um neurótico, ninguém passa, só assiste; por uma história de poeta, muitas outras histórias passam. Com sua posição de responsabilidade ética, e por sua estética aberta, generosa, o poeta faz com que nós também nos livremos das auto-acusações acachapantes e nos arrisquemos a inventar soluções mais singulares a nossos desejos. JORGE FORBES - www.jorgeforbes.com.br
ResponderExcluirÉ de Freud a frase: "Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim."
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