quinta-feira, 10 de setembro de 2015

AS MIL FACES DAS PALAVRAS

As mil faces das palavras
De repente elas chegam leves, macias, saltitantes. Buscam espaço. Vêm à tona. Ficam à deriva. Exalam odores. Mostram as cores. Registram dores. E, neste navegar constante, aportam em cada coração.
Ora doces e suaves. Bem ditas. Criativas. Plenas de afeto, de carinho, de gentileza. São forças. Resistem ao tempo. Jorram de dentro de cada um. Escorrem, lambuzam almas, aquecem corações. Ecoam pelo mundo. Os sonhos se realizam e o riso se faz presente. Constroem o homem.
Ora amargas. Palavras sombras. Doentias. Duras. Raivosas. Dominadoras. Constroem a desesperança. Criam medos. Destroem os sonhos. Desfazem o amor. Acabam com o colorido de um dia. Fazem uma criança chorar.
“Ai palavras, ai palavras
Que estranha potência a vossa
Todo o sentido da vida
Principia a vossa porta”
Palavras sufocadas. Engolidas. Travadas. Perpetuam-se na vida de cada um. Modelam. Padronizam. Surgem os “de menor”, os favelados, os sem-terras, os revoltados, os marginalizados. A violência torna-se importante. Cria-se o desemprego, a fome, a miséria. Jovens tornam-se traficantes, estupradores, assassinos.
Mundos distintos, separados, construídos pelo poder das palavras. Era on line versus analfabetismo. Tecnologia e miséria convivem num mesmo universo. Globalização. Economia liberal. Narcotráfico. Corrupção. Poder paralelo.
Na busca do elo perdido, um herói – o educador. Um Dom Quixote lutando contra os moinhos de vento. Investindo contra as amarras. Cego. Desprotegido. Já não abocanha a vida. Engole-a. Vomita palavras descontextualizadas. Novas ideias. Educação para todos. Vã filosofia. Triste realidade. Massificação. Fracasso. Culpa a ignorância, a família, a si mesmo. “Mea culpa, mea culpa”. Palavras que mascaram culpas, mágoas, ódios. O corpo suaviza-se. A boca entreabre-se para morder a esperança de um mundo melhor, mais humano, mais justo.
Tudo no seu tempo. Na medida certa. Nem mais, nem menos. Transformar. Amar. Mais e mais. Reparar o ser poético. Viver poeticamente o conhecimento do mundo. Deliciar-se com os sabores. O amanhã é este momento. É o aqui. O agora. O ontem estará nas pequenas conquistas do hoje. E as palavras não serão apenas significantes, mas terão significados concretos na construção de cada homem.
Selma Monteiro Pereira

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